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Fonte: Cosme Rimoli Emerson Sheik é um personagem criado por Márcio Passos de Albuquerque. Mudou o nome e diminui três anos dos 17 que tinha, fez nova e falsa certidão de identidade. Fez
teste e foi aprovado no São Paulo e passou a atuar entre os garotos de 14 anos. Como gato, fez seis jogos pela Seleção Brasileira sub-20. Um pequeno escândalo que todos fazem questão de
esquecer. Seu dom de jogar futebol abriu todos os caminhos. Não quis assumir seu nome verdadeiro, mesmo depois de flagrado pela Polícia Federal, embarcando para o Catar. Foram dez anos se
acostumando a ser chamado de Emerson. Depois do caso Sandro Hiroshi, outro atleta a diminuir sua idade, a diretoria do São Paulo investigou melhor Emerson. E, imediatamente, ele foi
despachado para o futebol japonês, onde ficou cinco anos. Depois passou quatro no Catar, onde se naturalizou catariano e disputou as Eliminatórias para o Mundial da África do Sul. Fez três
jogos pelo Rennes da França, passou pelo Flamengo, Emirados Árabes, Fluminense e desembarcou para quatro longos anos de Corinthians, que acabam de terminar. Ele acertou seu retorno para o
clube do coração. Pôde se dar a este privilégio. Aos 36 anos, milionário, com a vida resolvida, ainda dá tempo para seu último sonho: se transformar em ídolo de verdade na Gávea, com a
camisa rubro-negra que adora, de verdade. O carinho não é falsificado. Tite sabe o quanto esse homem irreverente foi importante na inédita conquista da Libertadores pelo Corinthians. “Ele
fez o diabo em campo. Ironizou, provocou, xingou, mordeu e principalmente jogou muito futebol. O Emerson tem lugar eterno nesta conquista que parecia impossível. O grupo todo foi fantástico.
Mas ele foi especial”, admite o técnico, com muita saudade daquele 2012 que parece mais distante. A relação entre Sheik e Corinthians foi inconstante como sua vida amorosa. Cheias de
alegrias inesperadas, comemorações, frustrações. Preparadores físicos e fisioterapeutas confidenciam que se ele tivesse um pouco mais de dedicação poderia ter ido muito mais além. Só que ele
nunca abriu mão de fazer o que tinha vontade. Como morar no luxuoso condomínio de Alphaville, em Barueri, e treinar no CT Ecológico, cerca de 40 quilômetros de distância. Separado, festas e
baladas sempre foram constantes na sua vida. Dormir pouco também. Os atrasos aos treinamentos também. Ele ria quando chegou a alugar helicóptero para chegar no horário. Os dirigentes
corintianos nunca foram próximos de Sheik. Principalmente Andrés Sanchez. Se dependesse dele, sairia logo após a conquista da Libertadores, quando estava em alta. E houve a possibilidade de
voltar ao futebol árabe. Mas Emerson/Márcio não quis. Disputou o Mundial, foi campeão. Ainda renovou seu contrato por dois anos em 2013, graças à pressão de Tite. Essa ligação fraterna teve
consequências. Fez Sheik dar um beijo na boca de um dono de restaurante. Foi substituído no Brasileiro de 2013, contra o Coritiba. Irritado, não cumprimentou Tite, apesar de o técnico ter
sido responsável por sua renovação. Para tentar desviar o foco, foi até o restaurante Paris 6, chamou o amigo Isaac Azar. E decidiram se beijar e colocar na rede social a foto. Seria uma
manifestação contra a homofobia. Na verdade, uma maneira de todos se esquecerem do desrespeito a Tite. A malandragem de Sheik foi excessiva. Só conseguiu despertar o ódio das organizadas e
dos dirigentes do Corinthians. O ex-presidente e delegado Mario Gobbi permitiu que os chefes das principais torcidas se trancassem com o jogador. E o fizeram jurar que não era homossexual. E
ainda avisaram que divulgaria uma frase atribuída a ele. “Não sou gay porque não sou são-paulino.” Se pronunciou de verdade essas palavras, ninguém saberá. Se assumiu a frase para não tomar
alguns bofetões, também não. Pior do que os chefes das organizadas corintianas, só seu relacionamento com Mano Menezes. Os dois se detestavam. Sheik considerava Mano desrespeitoso,
arrogante sem consideração pelo time campeão da Libertadores, Mundial. Acreditava que ele tinha prazer em destruí-lo por uma pitada de inveja. Depois de uma discussão ríspida entre os dois,
Mano disse a Gobbi que não trabalharia com ele. E Emerson/Márcio foi emprestado ao Botafogo. O atacante chegou a um clube corroído pelas dívidas. Mas, esperto que é, fez questão de fazer um
acordo. O Corinthians seguiria responsável por seus salários de R$ 520 mil. Em General Severiano virou o jogador mais querido. Vendo a necessidade, principalmente dos mais jovens, emprestou,
deu dinheiro para aluguel, escola de filhos, remédios, comida de vários companheiros. Expulso contra o Bahia, no Maracanã, fez questão de antecipar o que aconteceria com José Maria Marin.
Andou até a câmera mais próxima e, em close, falou o que muita gente sempre pensou. “CBF, você é uma vergonha!” Revoltado com a incompetência dos dirigentes, incapazes de pagar os salários
em dia, comprou briga com a diretoria botafoguense. Acabou afastado do clube em outubro. Teve férias de quase 90 dias. Com seu salário religiosamente pago pelo Corinthians. Sem ter o que
fazer, namorava atrizes e sub-celebridades. E se deixava fotografar e filmar no luxuoso apartamento a beira mar que tem na milionária Barra da Tijuca. Seu retorno ao Corinthians não foi o
que Tite esperava. Sheik voltou irritadiço, tenso. Os atrasos de salários e direitos de imagem mexeram demais com seu comportamento. Ele não esperava que isso acontecesse no Parque São
Jorge. Em plena primeira Libertadores no Itaquerão. Foi quando falou a seu agente Reinaldo Pitta. Tinha certeza que seu contrato não seria renovado. Daí veio à tona sua paixão verdadeira
pelo Flamengo. Emerson/Marcio saiu do Fluminense porque, brigado com a diretoria, cantou o funk Bonde do Mengão em pleno ônibus tricolor. Fez de propósito. E quando o troféu da Libertadores
veio cair na sua mão, depois da conquista contra o Boca, ele sabia muito bem onde colocava a boca. Irônico para os fotógrafos, beijou o espaço reservado para o clube da Gávea.