"drop: ameaça anônima" é suspense despretensioso e correto 

"drop: ameaça anônima" é suspense despretensioso e correto 

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Uma das convenções de gênero cinematográficas mais divertidas, graças a Alfred Hitchcock e todos que se inspiraram no mestre do suspense, é o da pessoa comum que acaba envolvida num grande


esquema de espionagem e assassinato. Em cartaz nos cinemas, "Drop: Ameaça anônima" segue a tradição de obras como "O homem que sabia demais", "Voo noturno" e


"Bagagem de risco". Interpretada por Meghann Fahy, destaque da segunda temporada de "The White Lotus", Violet é viúva e tem um filho pequeno. De encontro marcado com


Henry, um fotógrafo que conheceu por aplicativo, ela deixa o menino com a irmã e vai até o restaurante escolhido. Ela está nervosa, pois é a primeira vez em anos, desde a morte do marido,


que sai para jantar com um homem. Enquanto Henry não chega, Violet troca algumas palavras com a hostess; um rapaz em quem esbarrou; a bartender simpática; o pianista sedutor; um senhor mais


velho esperando por uma tal de Diane; e um intrometido que tenta pagar um drink. A paranoia já começa aí – qual destas interações banais será significativa mais tarde? Quando o telemarketing


e as tentativas de golpe ainda não haviam inutilizado as nossas linhas telefônicas, apenas o toque já provocava um arrepio. Existia uma possibilidade, ainda que ínfima, de ser um daqueles


telefonemas de filme, que fazem o protagonista largar o aparelho em câmera lenta. No século 21, contudo, o perigo se anuncia pelo compartilhamento de arquivos via Wi-Fi. CÂMERAS DE


VIGILÂNCIA Um contato desconhecido manda várias solicitações para Violet. Depois de recusar algumas vezes, as mensagens se tornam ameaçadoras. Pelo celular, ela consegue ver as câmeras de


vigilância de sua casa – há um homem mascarado bem no meio da sala. Se ela desobedecer as próximas instruções, seu filho será morto. O compartilhamento via Wi-Fi funciona por proximidade. O


criminoso, portanto, só pode estar num raio de 15 metros de sua mesa. Seja lá quem for, o responsável está no restaurante e consegue ver e ouvir tudo o que Violet faz – inclusive o que ela


digita no celular. Pelas regras estipuladas, ela não pode pedir ajuda e nem permitir que Henry vá embora no meio do encontro. Fahy chamou a atenção em "The White Lotus" por viver


uma personagem que, a princípio, parecia superficial. Nos episódios finais, no entanto, ela acaba revelando uma interioridade muito mais complexa. Em "Drop: Ameaça anônima", a


atriz faz um jogo duplo semelhante, fingindo que o encontro está correndo bem enquanto é pressionada a cometer atrocidades. ELENCO O diretor Christopher Landon sabe como explorar o talento


de seus atores. Em "A morte te dá parabéns", que mistura viagem no tempo, slasher e comédia, a atriz Jessica Rothe transita de um gênero ao outro com facilidade. É até difícil


compreender como Rothe não foi escalada, desde então, para produções maiores. Já o papel do fotógrafo Henry, vivido de maneira competente por Brandon Sklenar, demanda um equilíbrio delicado


entre a paciência com uma viúva ainda traumatizada e uma leve irritação, mas sem nunca parecer babaca, com o seu comportamento cada vez mais bizarro. Ele também precisa comprar a encenação


de Violet, mas sem transparecer uma burrice total. Há um tratamento carinhoso na forma com que "Drop: Ameaça anônima" humaniza tanto os comensais como aqueles que trabalham no


restaurante. Langdon parece dedicar a sua atenção até aos personagens que, em outros filmes, seriam figurantes monossilábicos, como o garçom que atende a mesa de Violet e Henry. [embedded


content] Com tramas que dependem tanto da tecnologia, é necessário um compromisso redobrado com a suspensão da descrença, ou a brincadeira perde a graça. Como é possível que alguém cons0iga


vigiar todas as câmeras e microfones espalhados pelo restaurante e pela casa de Violet sem uma central de informação com diversos monitores? Não importa. Despretensioso e bem-humorado,


"Drop: Ameaça anônima" resvala em temas pesados, como violência doméstica, mas sem impor uma autoimportância típica de um "terror elevado" cavucando o tema do trauma. Com


apenas 95 minutos de duração, o suspense pode não chegar às alturas vertiginosas de um Hitchcock, mas é sólido o suficiente para entreter. (IEDA MARCONDES) “DROP - AMEAÇA ANÔNIMA” (EUA,


2025, 95 min.) Direção: Christopher Landon. Com Meghann Fahy, Brandon Sklenar e Violett Beane. Classificação: 14 anos. Em cartaz em salas dos circuitos Cineart, Cinemark e Cinépolis.