Play all audios:
Cena do filme: norte-americano compra disco da banda OSeis por US$ 5 mil Guto Barra (esquerda) e Béco Dranoff Afinal, o que é que a baiana tem? A inserção da música brasileira e o interesse
por ela despertado no cenário internacional é o mote do documentário Beyond Ipanema, do diretor e jornalista curitibano Guto Barra. Codirigido por Béco Dranoff, o filme fará sua estreia
nos Estados Unidos no prestigiado Museu de Arte Moderna (MoMA), em Nova Iorque, no próximo dia 17. Há 12 anos morando na terra do jazz, Barra teve a ideia de rodar um filme sobre o
poder da música brasileira em conversas que duravam o tempo de se ouvir um disco. A máxima "amigos, amigos, negócios à parte" não vale para os responsáveis pelo longa de 96 minutos
que deve ser lançado também no Brasil daqui a algum tempo. "Eu e Béco somos amigos e sempre tivemos o costume de ouvir música juntos e conversar sobre o assunto. Como jornalista,
acompanhei bastante o crescimento de atenção que a música brasileira teve nos últimos anos. O Béco fez parte de muitos episódios importantes envolvendo a música brasileira aqui fora, como
o projeto Red Hot + Rio, os discos de Bebel Gilberto, e o selo Ziriguiboom, que lançou as carreiras internacionais de Cibelle, Trio Mocotó e Apollo Nove", explica Barra. Foram quatro
anos de trabalho. Quase 50 entrevistados, entre artistas, produtores e jornalistas, brasileiros e norte-americanos. A "dream list" (lista dos sonhos) do diretor foi preenchida.
Além de depoimentos dos músicos David Byrne, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé e da cantora M.I.A., há importantes conversas com o produtor Creed Taylor (da Verve Records, um dos
primeiros a "descobrir" a bossa nova) e com o saxofonista Bud Shank (pioneiro ao misturar jazz com ritmos brasileiros, ainda nos anos 1950). "Tivemos de acomodar as agendas
de muitos dos artistas, o que é natural em um projeto deste tipo. No final, o longo período de produção acabou nos favorecendo e foi possível incluir muitas coisas bacanas no filme, como a
volta dos Mutantes e a história de uma escola pública no bairro nova-iorquino do Harlem, onde todo o programa de música é baseado em samba", explica Barra. O filme também trata das
diversas características que tornam a música brasileira de Carmem Miranda ao "funk favela" camaleônica, no sentido de conseguir se misturar com outros gêneros, principalmente
os norte-americanos. "Contamos um pouco da história da entrada da bossa nova nos Estados Unidos, mas também mostramos o impacto que a Tropicália tem hoje e as misturas eletrônicas
dos anos 1990", diz o curitibano. A equipe de Barra e Dranoff é quase toda formada por brasileiros radicados em Nova Iorque. Vários são de Curitiba, como o diretor de fotografia Artur
Kummer e a coeditora Lilka Hara. A trupe se dividiu. Entrevistas foram feitas em Los Angeles, Chicago, Washington, São Paulo, Rio de Janeiro e Nova Iorque. SURPRESAS Algumas cenas
reveladas pelo diretor demonstram o tamanho do alcance da música brasileira nos Estados Unidos. No meio do bairro do Harlem, intimamente ligado ao jazz no passado e ao hip-hop nos dias de
hoje, existe uma escola em que o samba é a principal atração. Barra também conta que filmou americanos dançando forró no meio do East Village e testemunhou a venda de um disco da banda
pré-Mutantes por US$ 5 mil. "Isso não acontece com a cultura de outros países. É uma coisa muito única manter diversos gêneros musicais recebendo atenção ao mesmo tempo em um país
como os Estados Unidos, onde a concorrência musical é tão grande", justifica o brasileiro. O também brasileiro Sandro Fiorin (sócio da FiGa Films, que vai distribuir o documentário
nos EUA) tenta justificar o interesse dos norte-americanos. "No Brasil, as influências são inúmeras, vindas de todos os lados, e o que eles recebem aqui é uma cacofonia de todas essas
influências. Para quem está desse lado, o som é bem mais interessante e inovador do que se julga aí", comenta o distribuidor. Responsável por entrevistar o jornalista Nelson Motta e o
crítico de música do The New York Times Jon Pareles para Beyond Ipanema, a curitibana Bia Moraes espera o melhor para o filme. "Acompanhei o processo desde o começo. Acho que primeiro
o Guto [Barra] tem o mérito de ter conseguido realizar o documentário e acredito que ele vá causar um bom efeito em circuitos e festivais pelo mundo", diz a jornalista. Beyond Ipanema
está sendo lançado no mesmo momento em que outros documentários sobre músicos brasileiros ganham as telas e o público no Brasil. Loki, sobre Arnaldo Baptista, e Simonal Ninguém Sabe
o Duro que Dei, filme a respeito de Wilson Simonal, já ganharam sua parcela de crítica e audiência".