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Alguém disse que as músicas natalinas mais bonitas são também as mais tristes. “A Very Murray Christmas”, o especial de natal que acaba de estrear na Netflix, funciona quando se deixa
embalar por esse clima melancólico e confortante. Veja também Na abertura do filme, quando Bill Murray olha pela janela como quem tenta aceitar a nevasca que paralisou Nova York, ouve-se
baixinho uma melodia ao piano. Ele se vira e caminha até Paul Shaffer (músico que animava o talk show “Late Night with Dave Letterman”) e começa a cantar “Christmas Blues”: “Os sinos estão
soando/ As ruas cobertas de neve/ As multidões felizes se cumprimentam/ Mas eu não conheço ninguém. / Tenho certeza de que vocês vão me perdoar/ se eu não me entusiasmar/ Eu sofro de
melancolia natalina.” Murray é conhecido por saber cantar direitinho – embora não seja nenhum crooner – e ele não passa vergonha no filme que é, essencialmente, um musical. O mais perto que
nós, brasileiros, chegamos de um especial de natal é talvez com Roberto Carlos. Mas os programas natalinos da tevê americana são tradicionais e envolvem músicas de natal – o de Bill Murray
tem 14 delas –, além de trazer um artista-anfitrião que recebe outras figuras mais ou menos conhecidas para criar o clima de comunhão que se espera das pessoas nessa época do ano. “A Very
Murray Christmas” faz um trocadilho intraduzível com o nome do ator e merry (“feliz”). A direção é Sofia Coppola , que havia trabalhado com Murray em “Encontros e Desencontros” (1997).
Aliás, os dois filmes têm vários pontos em comum. A história dentro do programa natalino é de que Murray deve apresentar um especial para a tevê com uma lista espetacular de convidados
famosos, mas uma nevasca impede todo mundo de chegar ao Hotel Carlyle, o local do evento. Bill se vê angustiado porque não existe a possibilidade de escapar do fiasco e, como os anúncios
foram vendidos e os contratos, assinados, ele tem de estrelar o show mesmo que não haja ninguém com ele. A situação melhora um pouco quando uma queda de luz espetacular afeta uma parte
grande dos Estados Unidos e assim o especial é cancelado. O cancelamento divide “Murray Christmas” em dois (com 56 minutos, ele é um filme relativamente curto). A tensão da primeira dá vez
para uma celebração delicada na segunda, com Bill se confraternizando com quem está presente no bar do hotel. No entanto, existem algumas armadilhas. As referências do filme são bem
americanas. Tirando uma ou outra aparição de superestrelas – George Clooney e Miley Cyrus participam de uma terrível sequência de sonho –, as outras participações devem passar despercebidas
por alguém que não conheça, no mínimo, o “Saturday Night Live”.