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Cerca de 70 anos se passaram desde que a grande Londres ganhou uma nova pista em seu aeroporto; sete décadas de crescimento econômico e riqueza estupenda que transformaram a cidade em uma
capital global que rivaliza com Nova York e Paris. Só que toda vez em que há neblina, neve, chuva forte, ou mesmo um pneu furado em um avião, é um transtorno enorme em Heathrow, o aeroporto
mais movimentado da Europa, que hoje opera com 98 por cento de sua capacidade. Atrasos são comuns mesmo com tempo bom; os passageiros perdem conexões importantes e até o Aeroporto Gatwick,
que opera voos charter e de curta distância, também está perto de sua capacidade máxima. Ainda assim, décadas depois que ficou claro que o sudeste da Inglaterra precisa de pelo menos mais
uma pista para permitir que Londres e a economia britânica cresçam, a maioria do governo Conservador diz que não quer tomar uma decisão politicamente controversa sobre o assunto por pelo
menos seis meses. Porém, depois de três anos e a um custo de mais de US$30 milhões, uma comissão independente anunciou que aprova unanimemente a construção de uma terceira pista em Heathrow
por razões econômicas e estratégicas. Sua escolha foi apoiada pelos lobistas de negócios, a Confederação das Indústrias Britânicas, e, sujeita a considerações ambientais pelo partido de
oposição, o Trabalhista. Em 2009, o primeiro-ministro David Cameron fez campanha prometendo não expandir o Heathrow, “sem choro, nem vela”, segundo suas palavras. Políticos importantes do
partido Conservador, como o prefeito de Londres, Boris Johnson, se opõem à expansão. Muitos dos que moram em volta do Heathrow, apesar de dependerem do aeroporto para garantir o sustento,
fazem campanha contra a expansão. Os habitantes de Harmondsworth – vilarejo mencionado no Livro Domesday, censo histórico realizado no século XI sobre as terras de Londres, que provavelmente
desapareceria – estão particularmente insatisfeitos. Um morador contou a BBC que seria um “ato de barbárie” e prometeu entrar com um processo. Outro, no entanto, disse que queria um fim
para a incerteza para poder decidir se reforma ou não a casa. A decisão geraria US$230 bilhões em crescimento econômico em 60 anos e 70 mil empregos até 2050, além de fornecer conexões
melhores para os britânicos, incluindo aqueles que moram fora de Londres, afirma a Comissão de Aeroportos. A nova pista permitiria que o Heathrow dobrasse sua capacidade de passageiros em
2050 e aumentasse as partidas e pousos das atuais 480 mil para 740 mil. A capacidade extra também diminuiria o custo de cada passageiro. Mas a comissão diz que a nova pista deve seguir
padrões mais severos de controle de barulho e poluição ambiental. Howard Davies, economista que liderou a comissão, explicou a BBC que a reputação internacional da Inglaterra e de seu
governo estão em jogo. “Será que Londres está preparada para tomar as decisões necessárias para continuar sendo uma metrópole global? Acho que os ministros vão perceber que é preciso chegar
a uma decisão”, afirma Davies.