A reforma umbilical

A reforma umbilical

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Em uma semana em que o governo anunciava a possibilidade de aumentar a arrecadação do Imposto de Renda e de tributar dividendos, vimos a absurda aprovação, em comissão especial da Câmara dos


Deputados que analisa mudanças nas regras eleitorais, do chamado “distritão” e de um fundo bilionário para campanhas. Sob a fachada de uma “reforma política”, os deputados se reuniram às


pressas e, mais uma vez, realizaram uma votação à noite, em um horário que impossibilitou qualquer discussão democrática. A ideia da criação de um fundo especial para o financiamento de


campanhas surgiu após a proibição das doações de empresas a partidos e candidatos. No novo modelo de financiamento, os recursos virão dos cofres da União. Possibilitar a reserva, no


orçamento federal, de R$ 3,6 bilhões para pagar campanhas em um país que alcançou a marca de 14 milhões de desempregados, em que todo o sistema social é precário e em que empresas fecham as


portas todos os dias por causa da alta carga tributária é, no mínimo, uma irresponsabilidade. > Se a reforma política for aprovada como está, podemos declarar > outra derrota da 


democracia >    Além disso, há o “distritão”, que beneficiará os parlamentares que já estão no poder, uma vez que serão mais capazes de atrair votos em comparação aos novos candidatos ou


representantes de minorias, o que dificultaria uma renovação na Câmara e no Senado. Se a reforma política for aprovada como está pelos plenários das duas casas do Congresso Nacional, podemos


declarar outra derrota da democracia, em que o contribuinte pagará, legalmente, para manter um sistema político que olha somente para si mesmo. Um cenário de desrespeito, em que nossos


representantes, que deveriam defender a coisa pública e o bem comum, movimentam-se com o objetivo de se enraizarem no poder. Reforma que é reforma deveria visar o interesse da sociedade. Os


brasileiros não suportam mais sofrer as consequências de uma crise econômica instalada no país por nossos governantes e representantes – os únicos, aliás, a não serem atingidos por ela.


OPINIÃO DA GAZETA: Antes de melhorar, vai piorar (editorial de 11 de agosto de 2017) OPINIÃO DA GAZETA: Os partidos querem mais dinheiro – e o povo paga a conta (editorial de 26 de junho de


2017) Queremos eleições sérias, baratas e íntegras. Precisamos de representantes que, independentemente de ideologia, partido e unidade federativa, respeitem a forma como as questões de


interesse público são decididas. Como ressaltou Charles de Gaulle, o líder mais influente da história da França moderna, responsável por pôr fim ao caos político que precedeu seu ingresso na


presidência daquele país, “política é uma questão muito séria para ser deixada para os políticos”. Todos devem se envolver neste debate. Como podemos discutir reformas se a sociedade nem


sequer está bem representada? Sim, demos ao Estado o poder de representação de nossos interesses e direitos. Todavia, é momento de fazermos questionamentos, já que não suportamos mais a


predominância do desequilíbrio, do abuso de poder, da onerosidade excessiva e da má-fé praticados pelos que estão em Brasília.