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A escolha do Rio de Janeiro como palco dos Jogos Olímpicos de 2016 e, um pouco antes, junto com outras cidades do país, da Copa do Mundo de 2014 abrem uma enorme janela de oportunidade para
o Brasil. Afinal, juntos os dois eventos oferecem uma imperdível chance de acertar nas obras necessárias para atender a esses dois megaeventos que, sem nenhuma dúvida, poderão colocar nosso
país no papel de protagonista no palco da geopolítica global. Quem teve a oportunidade de conhecer Barcelona, na Espanha, antes dos Jogos Olímpicos de 1992 quando a área próxima ao porto
era degradada e decadente e depois deles, pôde notar como um megaevento esportivo da envergadura das Olimpíadas é capaz de transformar sapo em príncipe. Barcelona emergiu das obras para os
jogos com o status de, possivelmente, a segunda mais bela cidade europeia, ficando atrás somente de Paris. Em Barcelona, as autoridades espanholas e catalãs pensaram como a população local
poderia se beneficiar, após os jogos, se obras corretas fossem realizadas. E foram. Pois bem, que tal se, nos dois eventos globais que serão realizados nos Brasil, o povo brasileiro fosse
incluído nos projetos? Será que é pedir muito? O que mais ouço são céticos balbuciando que a elite política e alguns poucos dirigentes de esportes serão os grandes beneficiados, que vão se
locupletar ainda mais. É só lembrar das absurdas contas dos Jogos Panamericanos de 2007, às quais o Tribunal de Contas da União fez ouvidos moucos, para inferir que isso é altamente
possível. Para garantir obras corretas que beneficiem no futuro as populações locais e evitar que poucos roubem muito, que tal propormos que o Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e
Agronomia (Crea) e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para participar de conselhos, acompanhar de perto tudo o que será feito e tornar público? Seria uma forma de controle da sociedade,
pois, caso contrário, poderemos perder a chance de recuperar o Rio e de fazer obras perenes para beneficiar a população das cidades-sede da Copa. Eis a nossa chance. Não podemos perdê-la. O
Brasil e o Rio são carentes de tudo: escolas, saneamento básico, moradia, insegurança, hospitais, transporte público, luz elétrica, praças esportivas, entre outros, por conta de
administradores incompetentes, mal-intencionados e que trabalham exclusivamente em causa própria. Os valores a serem investidos nos dois eventos podem chegar ao redor de R$ 50 bilhões. É
muito? Sim, mas se pensarmos que a grande maioria é em obras (investimentos) como transporte, que beneficiarão a população, justifica-se. Afinal de contas, esse valor representa apenas 5% do
que o governo Lula já torrou somente em juros sobre a dívida interna (mais de R$ 1 trilhão), dinheiro que foi para concentrar nas mãos de poucos, um grupo de cerca de 10 grandes bancos.
Isso sim é gastança desnecessária e entreguismo. Vamos dar uma guinada: em vez de gastança, vamos fazer investimentos em obras úteis e necessárias para a população. Isto só tem chance de
ocorrer se houver algum controle da sociedade. O que não podemos permitir é que alguns dirigentes de esportes e políticos do executivo utilizem esses dois tão importantes eventos para
desviar ainda recursos públicos e se enriquecerem. Vamos nos dar uma chance. Que tal imitar Barcelona e fazer bonito? Para não nos enganarmos e chorarmos no futuro a chance perdida, sugiro:
a) que o TCU e o Ministério Público não se apequenem e cumpram o seu papel constitucional (não aprovem o escândalo do tipo Pan); b) que o Crea e a OAB façam efetivamente parte do comitê de
aprovação e acompanhamento das obras; c) que os atuais (e perpétuos) administradores do esporte olímpico devam sair já, para garantir a salutar renovação e evitar os escândalos de novos
Pan, agora multiplicados por mil. Esses dirigentes são craques nisso. O esporte, como atividade educativa e de socialização, pode muito contribuir e ajudar nas nossas questões básicas e
estruturais, apesar de não resolver tudo. Que esses dois megaeventos ajudem os brasileiros a terem melhor transporte público, boas escolas, hospitais mais humanos, menos insegurança e um
saneamento básico minimamente aceitável. Isso só terá chance de ocorrer se a sociedade se mobilizar e agir. Se deixarmos nas mãos dos nossos políticos e dos atuais dirigentes do esporte,
estaremos jogando mais uma grande oportunidade no lixo. Aí, só nos restará lastimar e chorar, enquanto uns poucos vão festejar, locupletados. Vamos, pelo menos em Curitiba, dar um bom
exemplo para o Brasil. _Judas Tadeu Grassi Mendes é Ph.D. em Economia, autor de seis livros e diretor-presidente da Estação Business School_