Dinheiro que stf ‘deu’ a empresas pagaria quase dois anos de combate ao crime

Dinheiro que stf ‘deu’ a empresas pagaria quase dois anos de combate ao crime

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Meio ano de gastos com o programa Bolsa Família. Um ano e meio de investimentos federais em obras viárias. Ou dois anos de despesas federais no combate ao crime. É mais ou menos isso que a


União deixá de receber por causa da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que estabeleceu que qualquer empresa tem direito a créditos tributários de IPI ao comprar insumos isentos da


Zona Franca de Manaus. A estimativa, segundo a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional, é que a renúncia fiscal chegue a R$ 16 bilhões por ano. Em geral, uma empresa abate de seus impostos o


que foi pago de imposto na etapa anterior. A decisão do Supremo cria uma exceção para empresas que comprarem insumos da Zona Franca – elas terão o crédito mesmo sem ter pago o imposto


anteriormente. Segundo os seis ministros que votaram a favor desse entendimento, trata-se de um benefício que faz parte do plano de desenvolvimento da região previsto na Constituição. O QUE


SIGNIFICAM R$ 16 BILHÕES A MENOS NO CAIXA DO GOVERNO Em uma lista de gastos e investimentos do governo, com dados extraídos de relatórios do Tesouro Nacional, é possível ter ideia do que


esses R$ 16 bilhões a menos vão significar para o orçamento da União, que já fecha as contas no negativo desde 2014. Como deixará de arrecadar esse dinheiro, o governo terá de cortar ainda


mais despesas importantes – em especial, investimentos –, que já estão em queda há anos. O valor equivale, por exemplo, a aproximadamente meio ano de gastos com o BOLSA FAMÍLIA. Em todo o


ano passado, o governo federal destinou R$ 31,035 bilhões ao programa. VEJA TAMBÉM: Com o benefício concedido pelo STF seria possível, ainda, bancar quase dois anos de despesas federais na


função SEGURANÇA PÚBLICA, que foram de R$ 8,8 bilhões em 2018, segundo o Portal da Transparência do governo federal. O buraco na arrecadação gerado pela decisão do STF seria capaz de pagar


um ano e meio de OBRAS VIÁRIAS, considerando o que o antigo Ministério dos Transportes – absorvido pelo Ministério da Infraestrutura no governo Bolsonaro – investiu ao longo de 2018 (R$


10,338 bilhões). O investimento, tanto no caso do Ministério dos Transportes quanto nos citados a seguir, não representa o gasto total dessas áreas, mas sim os valores aplicados


especificamente em obras e equipamentos. Assim, o montante comprometido pela decisão do STF corresponde a mais de três anos de INVESTIMENTO FEDERAL EM EDUCAÇÃO, se tomarmos como base o valor


investido pelo Ministério da Educação de janeiro a dezembro de 2018, que somou R$ 5,032 bilhões. Ou quase a três anos de INVESTIMENTOS DO ANTIGO MINISTÉRIO DAS CIDADES (absorvido pelo


Ministério da Infraestrutura), que em 2018 aplicou R$ 5,516 bilhões. RETROCESSO Na prática, a decisão do STF vai beneficiar grandes empresas, com cadeias produtivas longas e com condições de


procurar fornecedores de insumos na região, gerando créditos suficientes para reduzir significativamente a carga tributária sobre seus produtos finais manufaturados em outras áreas. No


entendimento da maioria dos ministros, por ser de difícil acesso e distante dos grandes centros do país, a região precisa de incentivos para se desenvolver. A procuradora da Fazenda


Nacional, Luciana Moreira, que acompanhou o julgamento, considerou a decisão “um grande retrocesso”. “É um benefício que não vai para a Zona Franca. Vai para quem compra insumos da Zona


Franca e está fora dela. É um incentivo bancado pela União”, afirmou.