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Administração do Metro de Lisboa acusa a Quercus de fazer estudo sem credibilidade. Cansaço, zumbidos nos ouvidos, perda auditiva ou aumento do ritmo cardíaco são alguns sintomas que podem
afectar os utentes do metro de Lisboa. O culpado é o ruído a que os passageiros da linha do metropolitano estão sujeitos. A conclusão é da Quercus que ontem divulgou um estudo, revelando que
os problemas são maiores em cinco troços –Cais do Sodré/Rossio, Cidade Universitária/Entrecampos, Senhor Roubado/Ameixoeira, Chelas/Oriente e Pontinha/Carnide. “Em todos os percursos foram
medidos níveis médios de ruído superiores a 80 decibéis, o que pode representar um risco para a saúde, sobretudo para crianças e idosos e para os operadores do metropolitano”, nomeadamente a
perda auditiva, alertou à Lusa Mafalda Sousa, da associação de defesa do ambiente. As conclusões da Quercus levaram o Movimento de Utentes do Metro de Lisboa a desafiar a empresa a tomar
medidas urgentes para atenuar os efeitos do ruído na saúde dos passageiros, mas a administração do Metropolitano de Lisboa defende que o estudo “não é credível” nem reconhecido pela
legislação portuguesa. “Se, por um lado, os equipamentos e métodos utilizados na medição, nomeadamente o uso de telemóveis, não oferecem credibilidade, por outro, desconhece-se se o estudo
foi efectuado por técnico habilitado para o efeito e quais os métodos de medição usados”, critica o ML, em comunicado. O estudo realizou-se entre Agosto e Setembro de 2014 e, segundo a
Quercus, envolveu uma “avaliação limitada” do ruído nas quatro linhas, em duas viagens em cada sentido e por cada linha, abrangendo um período calmo e um período de hora de ponta, e foi
feita uma comparação com os tempos de exposição recomendados pela Organização Mundial de Saúde e pela agência norte-americana que fiscaliza esta área (EPA). A análise permitiu concluir que,
mesmo nos troços mais recentes, como a linha vermelha, “foram registados níveis sonoros médios superiores a 84 decibéis em todas as medições”. A partir dos 70 a 75 decibéis, o corpo humano
começa a ter reacções ao ruído (físicas, mentais ou emocionais), e “uma exposição de média-longa duração a um ruído intenso pode provocar zumbidos nos ouvidos, aumento da produção de
adrenalina, contracção dos vasos sanguíneos, aumento da pressão sanguínea e do ritmo cardíaco”, explica o trabalho da Quercus. As consequências imediatas traduzem-se em dificuldades na
comunicação, concentração, fadiga ou aumento da irritabilidade, segundo o estudo, que aponta como referência o nível médio de 75 decibéis por percurso, estabelecido pelo New York City Noise
Code (código de ruído da cidade de Nova Iorque, nos EUA). Factores como o volume de tráfego, a manutenção e a qualidade acústica das infra-estruturas e das carruagens ou a amplificação do
ruído, por se tratar de um canal confinado, aumentam os impactos associados à exposição ao ruído. “Há uma ausência de legislação nacional e comunitária sobre os limites de ruído a que os
utentes deveriam estar expostos, nomeadamente no caso do metropolitano, e são poucos os estudos sobre ruído no metro, só [existe] mesmo o de Nova Iorque”, diz Mafalda Sousa. Entre as medidas
apontadas para reduzir o ruído no Metro estão a correcta insonorização do habitáculo das carruagens, a adopção de rodas com maior capacidade de amortecimento e de sistemas de ventilação
mais silenciosos, sendo também aconselhado que, em futuras expansões da rede, seja reduzida a propagação do barulho, através da correcta escolha dos materiais.