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Milhares de apoiadores do poderoso líder xiita Moqtada al-Sadr protestaram nesta sexta-feira (24), em Bagdá, para pedir a expulsão das tropas americanas do Iraque, onde o sentimento
antiamericano aumentou nas últimas semanas. Após a convocação de Moqtada al-Sadr de “uma manifestação pacífica de um milhão de pessoas contra a presença americana”, postos de controle foram
estabelecidos para garantir a segurança da marcha. Desde as primeiras horas desta sexta-feira, um dia de oração no mundo muçulmano, milhares de fiéis se reuniram no bairro de Khadriya, aos
gritos de “Fora ocupante” e “Sim à soberania”. Em um comunicado lido por um porta-voz, Al-Sadr pediu a retirada das forças americanas, a anulação dos acordos de segurança entre Bagdá e
Washington e o fechamento do espaço aéreo iraquiano aos aviões militares americanos. O líder xiita também pediu ao presidente americano, Donald Trump, que não seja “arrogante”. Várias
facções paramilitares iraquianas, como as pró-iranianas da Hashd al-Shaabi, geralmente rivais de Sadr, apoiaram a marcha. Ao mesmo tempo, o movimento de protesto contra o governo foi
retomado nos últimos dias. Os atos haviam perdido fôlego diante do ressurgimento das tensões entre Teerã e Washington, que intervêm no Iraque para estabelecer sua influência. – “Em nome do
povo” – O movimento de protesto iniciado em 1º de outubro foi relegado a segundo plano após o assassinato pelos Estados Unidos, em 3 de janeiro, em Bagdá, do general iraniano Qassem
Soleimani, enviado de Teerã ao Iraque, e de Abu Mehdi al-Muhandis, seu braço direito iraquiano e número dois da Hashd al-Shaabi. O episódio reavivou o sentimento “antiamericano”. Dois dias
depois, o Parlamento iraquiano votou a favor da partida das tropas estrangeiras, incluindo dos 5.200 militares americanos enviados para ajudar os iraquianos na luta contra o extremismo. As
operações da coalizão internacional antijihadista, liderada por Washington, foram suspensas após a morte de Soleimani, e as discussões com Bagdá sobre o futuro das tropas americanas ainda
não começaram, de acordo com o coordenador americano da coalizão, James Jeffrey. Milhares de apoiadores de Moqtada al-Sadr chegaram a Bagdá de ônibus, procedentes de todo país. O bairro de
Khadriya está localizado em frente à Zona Verde, na outra margem do rio Tigre. Nesta área de segurança máxima estão localizadas as embaixadas, incluindo a dos Estados Unidos, e a sede do
governo iraquiano. Um opositor de longa data à presença americana no Iraque, Moqtada al-Sadr reativou, após a morte do general Soleimani, sua milícia – o “Exército Mehdi”. Este grupo lutou
contra soldados americanos durante a ocupação do Iraque entre 2003 e 2011. Autoproclamado “reformista” depois de apoiar o movimento de contestação, ele também lidera o maior bloco
parlamentar, e vários de seus aliados ocupam posições ministeriais. Esta semana, 12 manifestantes perderam a vida em confrontos com as autoridades, somando 480 mortos desde o início dos
protestos contra o governo. Sob pressão das ruas, o primeiro-ministro iraquiano, Adel Abdel Mahdi, renunciou. Ele continua no cargo, porém, já que os partidos políticos não chegaram a um
acordo para designar seu sucessor.