Como as baleias encalham e por que é tão difícil resgatá-las? Entenda

Como as baleias encalham e por que é tão difícil resgatá-las? Entenda

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Com agonia e tristeza, moradores de Florianópolis acompanharam de perto o encalhe de mais uma baleia em praias da Capital. Neste domingo (1), a orla do Morro das Pedras ficou lotada de


populares que tentavam, de alguma forma, ajudar a desencalhar o animal, que já estava ferido.


O caso, que já é o quarto somente neste ano, acende alertas para a condição dos oceanos e levanta dúvidas: afinal, por que baleias encalham e por que é tão difícil salvar estes animais?


Entre julho e novembro, as baleias costumam passar pela costa brasileira, principalmente para se alimentar e se reproduzir. Neste período, é comum que existam registros de espécies como a


baleia franca e a jubarte.


Em Santa Catarina, o número de animais avistados nesta temporada foi o terceiro maior desde quando começou o monitoramento, em 2015. Em contrapartida, o estado já registrou quatro encalhes


no litoral: um em Garopaba, um na Praia da Vila e outro na Joaquina, além deste na praia do Morro das Pedras.


De acordo com a equipe do PMP-BS (Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos), representada pela Associação R3 Animal, existem vários fatores que levam ao encalhe do animal.


“Pode ir desde a saúde da baleia, a condição que fez ela chegar tão perto da costa, até razões ambientais e oceanográficas, ou com relação à interferência humana. A praia e o ambiente onde


ela encalha também favorecem a situação, com, por exemplo, a descida repentina das marés”, afirma Emanuel Carvalho Ferreira, gerente operacional da R3 animal.


Por outro lado, segundo informações do Portal UOL, a maioria dos quase 2.000 mamíferos marinhos que morrem encalhados por ano em todo o mundo, acaba preso nas praias por conta de erros na


orientação e navegação do próprio animal.


Pra piorar esse fator, vêm a influência humana, com o ruídos subaquático produzidos por meio de navios ou dispositivos de sonar, que têm impacto significante na comunicação dos mamíferos


marinhos. Desorientados, eles fogem das fortes ondas sonoras e podem acabar nas praias.


Depois de encalhados, estes animais, que pesam toneladas, passam por um processo de hipertermia, com a elevação da temperatura do corpo por conta da falta de água.


Eles também podem sufocar ou sofrer graves lesões internas devido ao seu enorme peso – que comprime os órgãos internamente. Sem conseguir respirar, a baleia acaba morrendo.


Ainda segundo a R3 animal, existem protocolos para realizar o desencalhe das baleias. “Tudo depende de qual foi o fator que gerou o encalhe do animal. Se foi uma condição de saúde, a


operação tem que ser avaliada, porque se não a equipe pode acabar condenando ele, machucando ainda mais… ou ele pode acabar encalhando em um outro local, porque já está debilitado“, explica


Emanuel.


Outro fatos seria a condição da praia. “Existem diversos tipos de praias,  com declividades diferentes, tipos de areia, altura da maré… Já tivemos, por exemplo, uma condição de desencalhe de


baleia com sucesso na Lagoinha do Norte, onde a condição de saúde do animal estava boa e as condições ambientais também. Então tínhamos todo o apoio e o suporte pra realizar o protocolo”


conclui.


No caso da baleia cachalote que encalhou neste domingo no Morro das Pedras, a situação era diferente. Durante todo o dia, a equipe monitorou o animal com apoio da Defesa Civil, IBAMA, Guarda


Municipal, Polícia Militar Ambiental e Prefeitura Municipal de Florianópolis. Porém as condições ambientais e de saúde do animal não foram favoráveis para o desencalhe.


“O mar estava bastante agitado, com alerta vermelho da Defesa Civil e Capitania dos Portos para a navegação, impossibilitando o resgate a partir do protocolo estabelecido pelos órgãos


envolvidos”, afirmou a associação em nota.


O gerente operacional da R3 animal também destaca a participação e a vontade de ajudar da população, que ficou por horas tentando facilitar o desencalhe da baleia.


“Entendemos o intuito, mas não é o ideal. A população não deve entrar na água. A gente está falando de animais que pesam 15, 20 toneladas, dependendo da espécie. Então, se um animal desses


rola em cima de alguém, pode causar alguma fatalidade, algum acidente bastante Sério, como já se tem registros”, afirmou.


O encalhe da Cachalote (Physeter macrocephalus) na praia do Morro das Pedras, em Florianópolis, na manhã deste domingo, acende também alertas com relação à saúde dos oceanos.


A fêmea, de aproximadamente 11 metros, pesando entre 15 e 20 toneladas, estava visivelmente debilitado e acabou morrendo. Com a subida da maré, a carcaça da baleia voltou ao mar, e as


equipes seguem em busca do animal para realização da necropsia.


“Os encalhes estão cada vez mais frequentes e muitas vezes envolvendo grupos grandes. Esse processo pode estar relacionado a um conjunto de estressores, especialmente aqueles que envolve


mudanças climáticas, aquecimento do oceano, a mudança de área onde os animais se alimentam, e claro, a presença da poluição” afirma o professor de Oceanografia, Paulo Horta.


Para o docente da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) essas intercorrências fazem com que os animais fiquem cada vez mais fracos e mais vulneráveis a eventos como a ressaca do mar,


por exemplo, que acaba levando o animal até a praia.


“Essa atenção ao monitoramento das baleias é muito importante pois elas são sentinelas do aquecimento e da poluição dos oceanos. Elas têm muito a dizer sobre a situação e o momento atual do


planeta. Precisamos refletir sobre o que pretendemos fazer, como sociedade, para evitar novos e tristes eventos como este” finaliza Horta.