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AUXÍLIO MILITAR ENVIADO A KIEV SEGUIU DINÂMICA DE NEGATIVAS PARA APENAS DEPOIS RECEBER O SINAL VERDE DE WASHINGTON — UMA TENTATIVA DE EVITAR UMA ESCALADA ABRUPTA DO CONFLITO No início da
guerra na Ucrânia, o presidente dos EUA, Joe Biden, disse a Volodymyr Zelensky, o presidente ucraniano, que não poderia ceder sistemas de mísseis de precisão americanos a Kiev. A Casa Branca
temia que uma entrega pudesse fazer a Rússia recorrer a suas armas nucleares táticas. Mas depois ele consentiu, e enviou os mísseis. A mesma dinâmica gerou debates sobre o fornecimento de
tanques. Agora Biden, que em fevereiro negou o envio de caças F-16, reuniu-se em Hiroshima na sexta-feira com líderes de outras grandes democracias e disse a eles que permitirá que pilotos
ucranianos sejam treinados nos aviões de guerra fabricados nos EUA. Ele acrescentou que em alguns meses, os aliados descobririam como começar a entregar caças ocidentais modernos para uma
força ucraniana que luta para manter no ar uma frota envelhecida e cada vez menor de caças soviéticos. * ENTENDA: EUA apoiarão treinamento de pilotos ucranianos em caças F-16, indicando
possível entrega futura dos aviões a Kiev * G7: Zelensky rouba a cena da cúpula, que apela à China para pressionar Rússia sobre Ucrânia Tudo isso levanta a questão: existem armas
convencionais nos arsenais americanos ou da Otan que o presidente não forneceria, eventualmente, à Ucrânia? O padrão de Washington de dizer não antes de dizer sim se repetiu tantas vezes nos
últimos 15 meses que as autoridades ucranianas dizem que agora sabem que devem ignorar a primeira resposta e continuar pressionando. Mas os funcionários da Casa Branca dizem que as mudanças
de posição não refletem indecisão, mas mudanças nas circunstâncias — e mudanças nas suposições sobre os riscos envolvidos. — Quando se trata da questão da escalada, é claro, o governo dos
Estados Unidos é um organismo que aprende — disse Jake Sullivan, conselheiro de segurança nacional de Biden, na manhã de sábado em Hiroshima. — Esse conflito tem sido dinâmico. Foi se
desenvolvendo ao longo do tempo. Análise, portanto, é de que as decisões de Biden acompanharam as mudanças nas necessidades da Ucrânia. Nas semanas após a invasão, o vacilante governo
ucraniano precisou de mísseis Stinger e outros sistemas antitanque. Quando a guerra se deslocou para o sul e o leste do país, com grandes planícies abertas, eles precisaram de artilharia e
defesas aéreas - e obuses de 155 milímetros. E embora Biden não acredite que os jatos de combate desempenharão um papel importante no conflito por um tempo, fornecê-los faz parte do
pensamento sobre como defender a Ucrânia a longo prazo - após o término da atual fase da guerra. Isso sugere que o governo e seus aliados agora acreditam que, mesmo que haja um fim negociado
para os combates – talvez um armistício como o da Coreia – a Ucrânia precisará de uma capacidade de longo prazo para deter uma Rússia furiosa e sancionada. Nesse caso, a decisão sobre os
F-16 pode ser a melhor evidência de que o governo acredita que, embora a Ucrânia sobreviva, algum nível de conflito pode existir por anos, senão décadas. Em um briefing a repórteres no
sábado, Sullivan repetiu as duas diretrizes de Biden: apoiar a Ucrânia, sua defesa, soberania e integridade territorial, enquanto procede de uma maneira que evite a Terceira Guerra Mundial.
* VEJA EM CINCO MAPAS: Quais as possíveis rotas da iminente contraofensiva da Ucrânia? * TANQUES, MÍSSEIS E DRONES: Conheça as armas que a Ucrânia deve usar em contraofensiva Esta última é
uma frase que Biden costuma usar com sua equipe. Mas o pensamento por trás do que significa evitar a Terceira Guerra Mundial evoluiu. As armas que Washington pensou que poderiam desencadear
uma escalada acabaram não o fazendo. Até cinco meses atrás, funcionários da Casa Branca estavam preocupados com a possibilidade de Putin concluir que seu Exército levará uma década para ser
reconstruído após o desastre que ele mesmo provocou. Isso o deixaria com apenas duas opções viáveis: usar suas formidáveis armas cibernéticas para paralisar a infraestrutura ou ameaçar usar
seu arsenal nuclear, na esperança de congelar a ajuda ocidental à Ucrânia. Até agora, Putin tem sido cauteloso com suas capacidades cibernéticas: ele as usou extensivamente contra alvos na
Ucrânia, dizem autoridades americanas e britânicas, mas relutou em atacar nações da Otan e correr o risco de trazê-las diretamente para o conflito. E depois que o líder da China, Xi Jinping,
advertiu explicitamente no final do ano passado contra a ameaça de uso de armas nucleares, Putin se acalmou. Mas poucos pensam que é uma situação que vai se manter. Ninguém sabe o que pode
irritar Putin, embora as autoridades russas tenham advertido especificamente contra dar à Ucrânia um sistema de mísseis de precisão de longo alcance, fabricado pela Lockheed Martin, chamado
ATACMS — que permitiria a Zelensky atingir a Crimeia e as bases russas de longe. REAÇÃO RUSSA Após o anúncio de Biden no G7 de que treinaria pilotos ucranianos e cederias os aviões de
combate, o Kremlin condenou o novo pacote de auxílio militar ocidental, classificando-o como "um erro colossal". — Vemos que os países ocidentais ainda estão aderindo ao cenário de
escalada. Envolve riscos colossais para si mesmos. Em todo o caso, isso será tido em conta em todos os nossos planos, e dispomos de todos os meios necessários para atingir os objetivos a
que nos propusemos — disse o vice-ministro das Relações Exteriores do país, Alexander Grushko, citado pela agência estatal russa Tass. Em paralelo, alguns especialistas alertam que Putin não
desistiu de suas ameaças nucleares — apenas os atrasou. "Putin não está esperando um passo em falso do Ocidente”, escreveu recentemente Kevin Ryan, ex-adido de defesa da embaixada
americana em Moscou, no “Russia Matters”, um site administrado pelo Belfer Center for Science and International Affairs em Harvard que examina as escolhas estratégicas da Rússia. “Ele vem
construindo as condições para o uso nuclear na Ucrânia desde o início da guerra e está pronto para usar uma arma nuclear assim que decidir, provavelmente em resposta à incapacidade de seus
militares vacilantes de escalar tanto quanto ele deseja por meios convencionais”, escreveu Ryan, um general de brigada aposentado, que dirige negociações indiretas com oficiais militares
russos aposentados.