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ESTUDOS MOSTRAM QUE INCIDÊNCIA DE INFARTO EM MULHERES, SOBRETUDO JOVENS, TEM AUMENTADO NOS ÚLTIMOS ANOS. A ADVOGADA ALINE DE OLIVEIRA COLLEONE FOI UMA DESSAS VÍTIMAS A advogada ALINE DE
OLIVEIRA COLLEONE, de 39 anos, vai à academia todos os dias, segue uma dieta rigorosa, não fuma, não bebe e não tem nenhuma comorbidade. Por isso, há dois anos, quando começou a sentir o que
descreve com um aperto forte no peito, não imaginou que pudesse ter algo errado com o seu coração. Leia também ‘Em quatro anos, tive burnout, câncer e sintomas de infarto e AVC’ O que é
arritmia cardíaca: causas, sintomas e tratamento “Eu sou muito ansiosa e agitada. Achei que era ansiedade e não dei atenção”, recorda-se. A dor, que irradiava para as costas e causava
suadouro, vinha do nada, sem hora específica, às vezes até durante o sono. Os episódios duravam de 3 a 4 minutos e foram se intensificando com o tempo. “Primeiro, dava um aperto no peito
mais fraco. Daí, vinha outro mais forte, seguido por um mais intenso ainda. Se eu estava caminhando, tinha que parar até passar”, conta. Um mês depois que o sintoma começou, Aline passou por
uma consulta demissional da empresa na qual trabalhava: “O médico disse que, de fato, podia ser ansiedade, mas também podia ser uma doença coronária, e me orientou a ir direto para o
hospital”. CATETERISMO E STENT No pronto-socorro, o eletrocardiograma e testes laboratoriais não apontaram nada errado. Mesmo assim, a advogada foi aconselhada a procurar um cardiologista e
investigar o sintoma. Para surpresa de Aline, uma angiotomografia mostrou que uma de suas veias arteriais estava em estado crítico, quase entupida. “A médica me explicou que, a qualquer
momento, eu poderia ter um infarto, que seria fatal. Eu fiquei em repouso e, quatro dias depois do exame, passei por um cateterismo e coloquei um stent para restaurar o fluxo sanguíneo”,
rememora. Os sintomas de Aline começaram um mês depois que um nutrólogo receitou a aplicação de uma pomada de testosterona para aumentar o ganho de massa muscular. “Eu fiquei contrariada,
mas ele disse que a dose era baixa e segura. A cardiologista falou que a testosterona exige uma capacidade de bombeamento do coração um pouco maior. Eu devo ter uma predisposição hereditária
a problemas coronários, que eu desconhecia, e o meu coração não aguentou”, explica. CRESCE INFARTO EM MULHERES JOVENS A incidência de infarto em mulheres jovens tem aumentado nos últimos
anos. Um estudo publicado no periódico _Circulation _descobriu que a proporção global de hospitalizações por ataques cardíacos entre pessoas de 35 a 54 anos aumentou de 27% entre 1995-99 e
32% entre 2010-14. O maior aumento ocorreu em mulheres jovens (21% para 31%), em comparação com os homens jovens (30% para 33%). As mulheres jovens da pesquisa eram principalmente negras,
com histórico de hipertensão, diabetes, doença renal crônica e acidente vascular cerebral. Os cientistas descobriram que médicos são mais propensos a ignorar os sintomas e fatores de risco
nas mulheres, e são menos inclinados a prescrever para elas remédios que ajudem a minimizar riscos. “A gente atribui esse aumento a várias coisas, dentre elas o fato de que a vida da mulher
moderna é muito estressante”, diz a cardiologista SALETE NACIF, do Hcor. “Tem outro agravante: o infarto em mulher jovem é seis vezes mais fatal do que em homens na mesma faixa etária.” Por
fatores genéticos, biológicos, hormonais e anatômicos, o mecanismo de infarto em mulher jovem não é necessariamente o entupimento de artéria por placa de gordura. “O nome que a gente usa pra
esse fenômeno é minoca, uma sigla em inglês para infarto do miocárdio sem lesões obstrutivas na coronária”, diz. + COMPORTAMENTO: MULHERES JOVENS SÃO MAIS PROPENSAS A TER UM ATAQUE
CARDÍACO, APONTA ESTUDO Segundo a médica, muitas vezes os próprios cardiologistas erroneamente avaliam que a paciente está bem, porque os exames iniciais, como o eletrocardiograma, não
apontam anormalidades “Só agora a comunidade científica está se debruçando para esse mecanismo das mulheres e descobrindo que muitas infartam por outras causas, como o espasmo coronário.
Nesse caso, o vaso coronário sofre um espasmo momentaneamente por uma descarga de adrenalina e fecha o fluxo sanguíneo por alguns minutos”, explica a médica. SINTOMAS DE INFARTO EM MULHERES
Os sintomas típicos de infarto são dor no peito, cansaço ao fazer esforço, palpitação e inchaço nas pernas. A mulher, no entanto, também pode apresentar sintomas não usuais. “Antes de um
infarto, ela pode começar a se sentir mais fadigada para as atividades diárias, ter irritabilidade excessiva e sono não restaurador”, avisa Nacif. “Se ela estiver sentindo algum sintoma
atípico, a recomendação é procurar logo o pronto-socorro ou uma avaliação cardiológica”, sugere a médica. Mulheres jovens nunca acham que estão tendo um problema cardíaco. “Vários trabalhos
científicos mostram que elas demoram mais do que o homem para procurar ajuda médica. Quando procuram, são negligenciadas no atendimento e no tratamento, em comparação com os homens. Elas
recebem menos cateterismo e menos cirurgias de revascularização”, diz a cardiologista. “Na realidade, porém, os problemas cardíacos matam as mulheres sete vezes mais do que o câncer de
mama.”