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A cada ano, consumimos mais. Somos 7,7 bilhões de habitantes e a ONU (Organização das Nações Unidas) estima que seremos 8,6 bilhões em 2030, e 11,2 bilhões em 2100. Números que fazem da
tecnologia essencial para que sejamos mais eficientes na produção de alimentos. A próxima grande inovação não será um novo sistema operacional, nem uma nova rede social. Quando me perguntam
sobre tendências dentro do ecossistema de inovação, costumo responder o seguinte: “cada país possui sua potencialidade. Portanto, é necessário entender o cenário econômico de cada
ecossistema”. No Brasil, temos um cenário muito claro: as próximas startups bilionárias não virão da cidade, mas sim do campo. O agronegócio é nosso potencial para o mundo e as agrotechs
estão se apropriando desse mercado. Os números? O agronegócio corresponde a 23% do PIB e por quase metade (44%) do total das exportações brasileiras. E esta não é só uma tendência nacional,
o que fortalece minha tese. Em 2018, segundo o AgriFood Tech Investing Report, o valor dos aportes mundiais no setor foi de US$ 16,9 bilhões, distribuídos em cerca de 1.450 investimentos.
Trata-se de um mercado em plena ebulição e isso é uma oportunidade para empreendedores brasileiros. Um estudo de 2018, feito pela consultoria KPMG e Distrito, aponta a existência de 300
agrotechs no Brasil, que investem cerca de R$ 100 milhões por ano. Foram batizadas assim porque são empresas que levam tecnologia para o agronegócio, solucionando problemas do campo e
auxiliando na elevação da produção. Provavelmente, os avanços trazidos pela aplicação dessas novas tecnologias contribuíram para o aumento da participação do setor no Produto Interno Bruto
(PIB) brasileiro (de 19% para 23%) nos últimos cinco anos. FALTA DE CONECTIVIDADE NO CAMPO É DESAFIO A SER VENCIDO Apesar dos números ascendentes, existem muitos desafios pela frente, como o
aumento da conectividade em zonas rurais. No Brasil, apenas 14% desses locais possuem internet. Este cenário, no entanto, está começando a mudar. Já existem soluções que envolvem IoT
(internet das coisas), drones, inteligência artificial e até e-commerce de máquinas. E tudo surgindo de grandes universidades, parques tecnológicos, incubadoras e pólos de inovação voltados
para o setor. O levantamento Radar AgTech, realizado pela Embrapa e o fundo SP Ventures, mostrou que os quatro estados do Sudeste somam 66% das agrotechs brasileiras. A cidade de Piracicaba,
em São Paulo, já está sendo chamada de “Vale de Piracicaba”, por conta do exemplo americano. Somente lá estão concentradas 120 das 300 agrotechs registradas no país. E isso influencia
grandes empresas a se estabelecerem nesses ambientes e “beberem dessa fonte”. É o caso da Raízen e da Coplacana, que se mudaram para lá. Essa tendência global de criação de pólos de
desenvolvimento voltado para inovações vem ganhando força principalmente pelas chamadas _deep techs_ (ou tecnologias profundas), que são startups focadas em avanços científicos e inovações
de engenharia com alto grau de tecnologia. O Global Startup Ecosystem Report 2019 listou os quatro subsetores que mais crescem dentro dessa lógica: manufatura avançada e robótica (107,9%),
blockchain (101,5%), agrotech e novas fontes de alimentação (88,8%) e inteligência artificial (64,5%). Como se vê, o setor de agronegócio aparece em terceiro lugar nessa lista como grande
impulsionador de inovações radicais. No cenário socioeconômico em que vivemos hoje, em meio a tantos desafios, inclusive ambientais, as agrotechs ganham uma importância singular para trazer
mais sustentabilidade, eficiência e controle para o campo. Para que possamos avançar nesse segmento, é importante uma atenção especial à formação técnica desses profissionais do campo e
trabalhar em novas formas de financiamento específicas para as agrotechs. Devemos aproveitar ao máximo nossa potencialidade e mostrar ao investidor que o Brasil está, sim, na vanguarda da
transformação tecnológica do agronegócio. A tecnologia deve ser a ponte para produzir mais com menos. É o grande desafio do século 21, mas também uma das maiores oportunidades.