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O ano mal tinha começado quando o escândalo de inconsistências contábeis nas Americanas veio à tona. Paralelamente, notícias sobre onda de demissões em empresas do Brasil e do mundo iam ao
ar diariamente, preocupando trabalhadores do setor de tecnologia e empreendedores, que viam suas oportunidades de receber investimentos diminuindo cada vez mais por conta do cenário
desfavorável. Pouco tempo depois, o Silicon Valley Bank, principal banco das startups, quebrou. O primeiro semestre de 2023 foi desafiador para os times de finanças e ficou claro que, mais
do que saber passar por momentos turbulentos, é preciso encontrar soluções para que os mesmos problemas não voltem a acontecer. Pensando em como foram esses primeiros meses do ano, separei o
que considero como sendo os principais aprendizados para a área financeira e para os times de finanças até agora. CULTURA ANALÓGICA É UM RISCO PARA O SETOR FINANCEIRO Os dados confirmam a
importância de automatizar o dia a dia do setor financeiro. De acordo com estudo da EY, 59% dos recursos do departamento financeiro são gastos em processos manuais. Outro estudo, o ‘The
future of finance function’, apontou que os volumes de dados estão crescendo pelo menos 63% ao mês nos departamentos, e 66% dos profissionais da área acreditam que a incapacidade de lidar
com a variedade e o volume de novos dados é uma séria ameaça para o futuro da função. Fazendo uma retrospectiva, não é raro encontrarmos casos de empresas que perderam fortunas por conta de
erros em planilhas, tendo como grandes dificuldades a manipulação por mais de um usuário ou equipe e o grande volume de dados a ser gerenciado. Em 2012, a financeira JP Morgan sofreu com a
perda de dados de uma planilha devido a não identificação de um erro de “copiar e colar”, o que levou a mais de 6 bilhões de dólares perdidos na bolsa de valores de Londres. Em 2005, a Kodak
perdeu 31% do valor de suas ações na bolsa devido a um erro de digitação de alguns “zeros” a mais em uma planilha. Em 2003, a empresa canadense de energia TransAlta viu seu patrimônio
líquido ser reduzido em 10% da noite para o dia, com a perda de US$ 24 milhões, também por causa de uma ação de “copiar e colar”. Não é grave imaginar que ainda estamos sujeitos a erros que
aconteceram há 20 anos, em um mundo muito menos digital do que o de agora? Ou seja, já está claro que o gerenciamento das finanças guiado por uma cultura analógica pode trazer riscos. No
longo prazo, esses riscos são capazes de comprometer o equilíbrio financeiro de um negócio. Erros de preenchimento das planilhas, por exemplo, podem comprometer a qualidade de projeções,
transparência dos dados e os processos de compliance. Há também o famoso 'barato que sai caro', já que se a empresa tem gargalos financeiros e sofre com problemas com a perda de
prazos junto a órgãos fiscalizadores e fornecedores, ela fica sujeita a multas, autuações e aumento do custo produtivo do negócio. TECNOLOGIA COMO ALIADA PARA TIMES DE FINANÇAS MAIS
ESTRATÉGICOS Recentemente, a Dattos consolidou informações sobre a operação em 2022 e concluiu que a plataforma de automação ajudou a identificar mais de R$ 130 bilhões em inconsistências
financeiras em grandes empresas só no ano passado. Acho essa descoberta interessante pois ela pode dar a impressão de que o encontro de inconsistências é um problema. Porém, é exatamente ao
contrário: o grande problema é NÃO ENCONTRAR essas divergências. Quem trabalha no setor financeiro sabe que inconsistências podem surgir. Detectá-las e corrigi-las rapidamente é
imprescindível para a governança das empresas. Porém, essa tomada ágil de decisões só é possível quando as equipes não estão sobrecarregadas por atividades manuais, como citei no primeiro
item. Nesse sentido, automatizar essas tarefas é um caminho essencial. Além disso, é impossível saber se um negócio está, de fato, tendo um bom desempenho se a análise é feita em cima de
dados pouco confiáveis. Uma empresa que tem o controle financeiro bem mapeado é capaz de usar seus profissionais de forma estratégica para as tomadas de decisão e tem uma visão melhor sobre
o real cenário das operações. Evitar a perda de recursos financeiros pode significar a manutenção de empregos, por exemplo. ANALISTA FINANCEIRO, OU MELHOR, ANALISTA DE DADOS Para os próximos
cinco anos, uma das minhas perspectivas é de que o analista financeiro se torne um analista de dados. Ou seja, deixe de ser apenas um especialista técnico na área de finanças e consiga
lidar e analisar estrategicamente volumes e diversidade de dados com o uso da tecnologia. Os segmentos financeiro, contábil e fiscal ainda têm um longo caminho a percorrer, não apenas no
Brasil, como em toda a América Latina. As grandes empresas e seus profissionais precisam estar preparados para a transformação digital em curso, aprimorando seus conhecimentos em tecnologias
como data analytics, big data e machine learning. Unir a expertise humana com o avanço tecnológico é um dos caminhos para se manter resiliente diante de cenários complexos - porém, acredito
que os primeiros meses de 2023 deixaram claro que, mais do que desejável, essa união já é imprescindível para a preservação da saúde financeira e do bem-estar de empresas e trabalhadores.
_*Guilherme Pessoa é CEO e cofundador da Dattos_. VEJA TAMBÉM: