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Turquia e Arábia Saudita dizem que querem entrar com tropas no terreno sírio. Washington está a aguentar a pressão A Turquia quer entrar com tropas em território sírio. “Sem uma operação
terrestre é impossível ganhar esta guerra” disse uma fonte oficial do governo de Ancara aos jornalistas. Com um mas, porque não tem intenção de o fazer sozinha. “Estamos a discutir o assunto
com os nossos aliados” (os EUA e a coligação internacional) e “se houver consenso , a Turquia fará parte da operação”. Do lado da Arábia Saudita o discurso é igual. Estão com vontade de
lutar no terreno de batalha na Síria, mas “o timing da operação não é decidido por Riade” explica o príncipe Adel al-Jubeir, o ministro dos Negócios Estrangeiros saudita. Decidir quando e
como passar dos bombardeamentos aéreos à colocação de tropas no terreno apenas cabe à coligação liderada pelos EUA. A Arábia Saudita, entretanto, vai-se preparando. Neste momento está a
liderar um gigantesco exercício militar no seu território, o “maior de sempre na região”. Em solo saudita estão forças de outros 20 países, como o Egito, Marrocos, Paquistão ou as ilhas
Maurícias. Dos Estados Unidos da América, até agora, não houve resposta. Segundo o ministro saudita, a ideia do ataque terrestre foi de Washington. E em dezembro tinha sido o próprio
presidente Barack Obama a pedir mais envolvimento dos países da coligação que querem derrubar Bashar al-Assad. Só que entretanto as coisas não estão na mesma. Com a ajuda da Rússia e de
comandos iranianos, o presidente sírio está a ganhar muito terreno. E rapidamente. As más notícias para os americanos não são apenas essas, porque os seus maiores aliados, rebeldes sunitas
moderados por si treinados e armados que lutam no norte do país, estão a ser particularmente atingidos quer pelo avanço de Assad quer pelo avanço de outros combatentes pró-EUA: as milícias
curdas na Síria (que são também apoiadas pelos russos). A batalha de Alepo é aqui fundamental. A sua conquista pelo regime ou pelos curdos significa a derrota de Washington e pode implicar o
destino geral do conflito. E vários analistas já estão a admitir a possibilidade da batalha estar perdida. Um raciocínio que implica até a possibilidade de os norte-americanos acabarem por
não ter outra solução a não ser acabar por aliar-se a Assad para derrotar o Estado Islâmico. “Se a coligação pró-regime for capaz de retomar Alepo, quer aniquilando ou acelerando a tendência
da oposição armada convencional de deixar o campo de batalha e apenas a al-Qaeda e o EI permanecerem como adversários significativos, então terá vencido. Assad, o Irão e a Rússia têm
trabalhado incansavelmente para eliminar a oposição moderada para que não haja nenhum interlocutor para a comunidade internacional. Se assim for, o reinado de Assad terá de ser aceite – e
talvez mesmo ajudado para conseguir reconquistar as áreas dominadas pelo EI no leste” escreve o especialista Kyle Orton no britânico no “The Independent”. De momento, Washington parece
apenas apostada no cessar-fogo anunciado na sexta-feira passada em Munique. Em ano de eleições Presidenciais, parece absolutamente improvável que Barack Obama se decida por uma opção
política tão arriscada como decidir ir combater no terreno sírio. Fazê-lo, implicaria entregar de bandeja o futuro Presidente aos adversários republicanos. Promover o avanço de tropas
aliadas seria uma jogada perigosa, porque o escalar do conflito poderia obrigar à intervenção dos Estados Unidos. E aqui Washington tem as coisas controladas – voltando ao início do texto –
, já que no jogo do empurra turcos e sauditas não avançam sem os EUA. Mesmo que a tensão verbal entre Moscovo e Ancara esteja a subir de tom, com acusações dos primeiros aos segundos de
“óbvios crimes de guerra” no bombardeamento a dois hospitais na segunda-feira, intervenção negada pelos russos. No polo oposto, Rússia e Arábia Saudita, que se odeiam no palco sírio, ainda
ontem fizeram jus à máxima da “realpolitik” acordando o congelamento da produção de petróleo na esperança de conseguir aumentar o seu preço, medida de que estava sedenta a comunidade de
países petrodependentes. Também ontem a Administração Obama recebeu outra boa notícia: o governo de Damasco aceitou que seja permitido o auxílio alimentar e médico a sete áreas cercadas,
como a cidade de Madaya. E assim cumprir uma das condições acordadas pelos sírios em Munique. Na próxima sexta-feira se verá se o cessar-fogo acordado será cumprido (será tão mais provável
quanto maiores sejam os avanços das forças pró-Asssad). A 25 de fevereiro recomeçam as conversações mediadas pela ONU para tentar um processo de paz na Síria. PODE SER QUE ACONTEÇA UM
MILAGRE. OU NÃO. “O tempo está a esgotar-se”, disse uma fonte diplomática saudita ao “Independent”. “Estamos a esperar que acabe o processo de paz. Acreditamos que irá falhar e quando isso
acontecer, a situação será completamente diferente”. Washington pode conseguir não colocar tropas no terreno, mas terá muito trabalho com os seus aliados.